A RAZÃO PELA QUAL NÃO HÁ ENTREGAS DE CASAS AOS BANCOS COMO ACONTECEU NO SUB-PRIME

Porque razão, apesar do aumento em quase 5 pontos percentuais das taxas Euribor em menos de 2 anos, não aconteceu uma sangria de entregas de casas aos Bancos?

ECONOMIA E IMOBILIÁRIO

5/1/20242 min ler

Em 2008, nos EUA, a falência do Banco Lehman Brothers, um Banco que fazia parte de um esquema de financiamentos e garantias entre Bancos e Seguradoras, despoletou uma crise financeira de abrangência global, porque a estrutura previa que toda a gente fosse apta para receber empréstimos e toda a estrutura financeira mundial, de uma forma geral, baseava a sua saúde numa ideia de continuidade de baixos níveis de incumprimento, o que manteria o mercado financeiro sempre estável, se não mesmo a subir em permanência.

Quando caiu o primeiro Banco, sucederam-se quedas de outros, em sequência, até ao ponto de todos os países do Mundo, quase sem excepção, terem que intervir garantindo através dos Bancos centrais linhas de liquidez para garantir que os Bancos não abriam falência ou em muitos casos, nacionalizar Bancos, ambos os casos tendo acontecido em Portugal, sendo a nacionalização do BES (actual Novo Banco) o caso mais badalado e reconhecido publicamente.

Os Bancos do mundo aprenderam. Em primeiro lugar, os Bancos centrais (Banco de Portugal no nosso caso), refizeram as regras para garantir que os Bancos não voltariam a descapitalizar-se de forma semelhante no futuro, obrigando a aumentos de reservas de capital associadas ao cumprimento por parte dos créditos que ofereciam aos seus clientes, mas os próprios Bancos passaram a ter regras mais apertadas para dar crédito.

As regras que implementaram e que hoje em dia garantem que os níveis de incumprimento são baixos passam por oferecer entre 80 e 90% no máximo de LTV (Loan To Value), ou seja, num negócio de 200.000€, o Banco emprestará no máximo 90% desse valor, dependendo normalmente do perfil financeiro do cliente.

Esta pequena mudança implicou que, caso a pessoa entre em incumprimento, o primeiro valor a "queimar" será o seu próprio e já sabemos que ninguém gosta de perder dinheiro.

Uma situação não motivada pelos Bancos foi o aumento dos valores de mercado dos arrendamentos, que em teoria, caso fossem em linha ou mais baixos do que os valores das prestações, poderia ter motivado mais pessoas a venderem ou entregarem as casas aos Bancos, mas a verdade é que se isso acontecesse, a alternativa seria muito mais dispendiosa por causa dos valores terríveis de arrendamento que se praticam no mercado actualmente.

Claro que há mais uma série de variáveis de menor impacto, tal como o maior aperto por parte dos Bancos no sentido de serem mais rigorosos com a taxa de esforço e as garantias reais que pedem aos seus futuros clientes, mas esta foi de facto a medida que fez com que o mercado se mantivesse estável apesar do aumento substancial da EURIBOR desde 2022.

Assim, face à baixa quantidade de imóveis em construção e à estabilização das pessoas com as soluções que actualmente têm em vigor nas suas vidas, nada antecipa um cenário como o que aconteceu em Portugal, particularmente entre 2009 e 2013, antes pelo contrário, com a potencial baixa da EURIBOR já no início do Verão, a perspectiva é um aumento de novo substancial já na segunda metade do ano de 2024.

https://economy-finance.ec.europa.eu/publications/depth-review-2024-portugal_en